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16/08 – ATO-XIRÊ contra o racismo religioso, as 14h no túnel da abolição, em Recife.

  • Diversos movimentos, coletivos e organizações negras e antirracistas, convocam a população pernambucana para um ato, que acontecerá nesta segunda (16), na praça do túnel da abolição, no bairro da Madalena.

    Nas últimas semanas, as obras dos artistas negros Nathê Ferreira, Adelson Boris e Emerson Crazy no Túnel da Abolição, foi vítima de racismo religioso através de ofensas e injúrias cometidas por um pastor evangélico de Igarassu, na Região Metropolitana do Recife. Essa não foi a primeira atitude criminosa do missionário cristão, ele já acusou a coordenadora cultural do município, Raphaela Ribeiro e a Prefeitura de Igarassu de promover uma agenda pró-feitiçaria e do poder municipal ser “ligado intrinsecamente aos poderes demoníacos”, além ser investigado por injúria racial contra o artista Joel Carlos em inquérito da polícia civil.

    Em nome do Deus cristão, o pastor pratica crimes de intolerância e charlatanismo, disseminando um ódio contra pessoas negras, travestis, transsexuais e homossexuais. Ao se referir a travesti Raphaela Ribeiro ele defende o desrrespeito de sua identidade de gênero alegando se referir a ela a partir dos olhos de Deus. Os delírios do pastor também incorpora a narrativa da “agenda globalista” onde crê que existe uma articulação internacional para promover acomodação social de práticas antinaturais. Cabe ressaltar que o argumento de anti-naturalidade da homossexualidade e da transsexualidade é refutado pela ciência ao comprovar a existência de comportamentos e transformações corporais que transgridem os gêneros em diversas espécies no reino animal.

    O cristianismo se consolidou neste território a partir da colonização, que puniu e criminalizou práticas culturais negras e indígenas por considerarem-nas demoníacas. O Tribunal da Santa Inquisição revela o passado nefasto do cristianismo que espalhou pavor e medo na sociedade justificando assassinatos de pessoas e reputações em nome da verdade de um deus sádico e autoritário, atualmente são as igrejas evangélicas neopentecostais responsáveis pela perpetuação da violência cristã para dominação social e política. O processo histórico em que boa parte do que é produzido pela população negra é desumanizado, desvalorizado ou considerado estranho e perigoso estimula a visão da religião africana como ligada ao culto ao demônio, diabo, satanás, rituais satânicos, macumba ou que fazem o mal.

    Discursos que associam a dissidência sexual da supremacia branca e as religiões de matriz africana ao pecado e ao demônio tem responsabilidade direta na violência que essa população é vítima! As formas cruéis com que a transfobia, homofobia, lesbofobia, bifobia e o racismo estão sendo praticados assusta e evidencia uma base cultural onde a discriminação, perseguição e o ódio tem o aval de Deus, já que ele só aceita uma única forma de existir neste mundo.

    Diante do avanço das narrativas conservadoras e intolerantes a Distro Dysca em conjunto com a ANEPE – Articulação Negra de Pernambuco, Movimento Negro Evangélico, Coletivo Periféricas, Espaço Cultural das Marias, Afronte Coletivo, Dhuzati Antiespecista, Ibura Mais Cultura, CARNI – Coletivo de Arte Negra e Indígena (CARNI), Rede de Mulheres Negras de Pernambuco, Articulação de Religiões de Matriz Africana e Indígena de Igarassu – PE, RENFA – Rede Nacional de Feministas Antiproibicionista e Coletivo Pão e Tinta se articulam também junto a Associação Caminhada de Terreiros de Pernambuco, para construir uma agenda de mobilizações que prevê além do ato do dia 16, uma caminhada religiosa no dia 23 de agosto e uma mobilização em Igarassu com data ainda a confirmar.